Desde que o homem começou a dominar o uso de ferramentas, a madeira sempre foi uma das principais matérias primas para as suas criações. Disponível na natureza em uma infinidade de espécies, é possível fazer dela tanto hastes e colunas duras como pedra, como também fitas tão flexíveis e macias quanto tecido.
Das nossas armas de caça e utensílios passando pela arquitetura e mobiliário, a história de como usamos a madeira é indissociável da nossa própria jornada como civilização. Hoje, vamos falar de um capítulo mais recente desta história. Acompanhe com a gente!
Madeiras fabricadas
Usar a madeira para construir novos materiais, em vez de usá-la diretamente na aplicação final, é uma forma de potencializar suas melhores características. Cortando, picando e moendo fibras diferentes e combinando-as com resinas, ceras e vernizes, podemos dispor hoje de materiais com propriedades e aplicações incríveis, que não seriam possíveis com o material in natura.
É ainda uma maneira de reduzir o enorme desperdício gerado pelo processo de corte e nivelamento de tábuas e ripas diretamente dos trocos de árvores.
Isto não quer dizer, claro, que não há mais espaço para a madeira natural. Desde o humilde pinus até o nobre jacarandá, as madeiras maciças, como são chamadas, têm lugar mais que garantido em qualquer marcenaria ou carpintaria. Assim, gostamos de pensar nos três materiais que vamos apresentar a seguir, não como substitutos da madeira, mas como complementos. Nem superiores, nem inferiores, mas diferentes, em suas possibilidades e usos. Vejamos quais são e o que podemos fazer com eles:
Compensado: o primeiro tipo de madeira fabricada
Se você acha que materiais compósitos são uma invenção supermoderna, pense de novo! Há registros confiáveis da fabricação de placas de compensado na década de 1860 (!!) na França e Estados Unidos.
O compensado, ou madeira compensada, é feito empilhando folhas finas em uma espécie de sanduíche. Cada folha é colada sobre as outras em um ângulo. Isto a torna resistente às dobras em todas as direções. Também melhora a estabilidade dimensional (o quanto ela se expande ou contrai em diferentes temperaturas) e impede que ela de desfaça quando perfurada por pregos e parafusos.
Dependendo da quantidade de folhas empregadas, os ângulos entre as folhas e as resinas e acabamentos usados na sua fabricação, é possível fabricar compensado com diferentes características físicas e, claro, diferentes preços também.
Com tanta variedade, é possível encontrar o compensado em usos que incluem rampas de skate, embarcações militares, construção civil, outdoors publicitários, instrumentos musicais e embalagens para transporte.
Aglomerado: quando o custo é o essencial
As primeiras chapas de aglomerado foram feitas na década de 1940. Com a Segunda Guerra Mundial, a oferta de madeira para a fabricação de compensado ficou escassa. Foi daí que surgiu a ideia de usar serragem e restos de madeira das fábricas, unidos por cera e resina para fabricar um novo tipo de compósito.
Os experimentos trouxeram resultados logo. Os restos de madeira e serragem, que tem dimensão irregular, foram substituídos por madeira moída em um processo controlado. Isto deu uniformidade e previsibilidade ao processo. Nos aglomerados modernos, o tamanho do particulado é controlado até mesmo em relação à sua posição na chapa. Peças menores em direção às bordas e mais grossas no centro, para otimizar a resistência do material.
Uma curiosidade é que no começo o aglomerado era mais caro que a madeira “de verdade”. O que motivou o esforço continuado no seu desenvolvimento foi mesmo a indisponibilidade da madeira pura no mercado. As pesquisas se pagaram com lucros!
Hoje o aglomerado é uma das madeiras de custo mais baixo no mercado. As suas variações mais simples não resistem à umidade, ou variações de temperatura tão bem quanto o compensado, mas quando o custo é primordial, são uma opção imbatível. A sua existência foi fundamental na história do design de móveis, permitindo que alguns fabricantes (hey, IKEA, estamos olhando para você!) pudessem criar projetos bonitos e diferentes com preços baixos, tornando-os acessíveis à população.
MDF: versatilidade imbatível
O MDF (medium-density fibreboard) é o mais recente dos compósitos de madeira. Começou a ser fabricado nos anos 60.
Assim, como seus “irmãos” compensado e aglomerado, ele é fabricado através do uso de madeira natural e resinas sintéticas prensadas. A diferença é que no MDF, as fibras da madeira são separadas através de uma espécie de cozimento. A madeira é transformada, em uma espécia de polpa grossa, que é depois reforçada com cera e resina para formar a chapa final.
O processo aceita diversos tipos de madeira como matéria prima na sua fabricação, como bambu, papel reciclado e descartes de serraria. Somado a esta tolerância, temos também hoje resinas que são mais limpas e seguras que as de antigamente. Assim, o MDF é a solução mais ecologicamente correta.
Outra vantagem do MDF é sua isotropia. Quer dizer, ele possui propriedades físicas uniformes em todas as direções. Com isto, podem-se fazer com igual precisão cortes e curvas em qualquer sentido. Esta propriedade também lhe garante resistência às rachaduras originadas por pregos e grampos e excelente conformidade em superfícies curvas.
Devido ainda à sua uniformidade, ele aceita muito bem acabamentos superficiais, como a aplicação de diferentes tipos de fórmica, verniz e tinta. Ou seja, um material com uma versatilidade incrível. Muito por isto, um dos preferidos entre os Fazedores.
Não são apenas vantagens, entretanto. O MDF também é bastante pesado, devido à densidade da resina, e estraga as ferramentas de corte e desbaste usadas nele com maior velocidade. Os materiais de qualidade inferior (mais comuns no mercado) também são bastante susceptíveis à ação da água, inchando na presença de umidade. Você já deve ter percebido isto em alguma porta de armário ou gaveta de banheiro, sobretudo próximo ao chão.
Agora que você já conhece melhor estes incríveis materiais, é hora de colocá-los em uso. Que tal nos contar, no Fórum Fazedores, qual será o seu próximo projeto com eles?
Entre compensado e aglomerado depende do projeto, por exemplo caixas de som são melhores quando feitas em compensado por sua resistencia e ressonancia dos alto falantes e seus parafusos, no entanto o mdf lasca menos e é melhor trabalhado na lixa, é por fim o compensado é mais caro quando comparado volume / volume ao mdf….só pra dar uma complementada no texto
Muito interessante, a relação de preço e uso de cada material, da pra fazer ótimos projetos analisando cada um deles.
https://www.youtube.com/watch?v=nI8go0c87mY
Esse foi meu projeto usando MDF.
Muito legal o projeto Vinicius!
Que tal criar uma thread lá no fórum com mais informações? Ficou muito bacana o robô!!
Show de artigo.
MDF é extremamente útil, tanto para produtos, como para protótipos. E o mais legal, podemos encontrar retalhes bons em serralherias. Sempre pego retalhos em uma caçamba.
Gostaria de ver um artigo sobre materiais plásticos em breve aqui no Fazedores. Teflon, Nylon, etc.
Valeu Jeferson! Sua sugestão foi anotada e trabalharemos nela em breve. Falando em bons artigos para se ver por aqui… que tal você preparar alguns e se tornar nosso colaborador? Sua história é fantástica e com certeza você tem muito conteúdo legal na cachola. ;-)
Obrigado Manoel, vou pensar em alguma coisa e te aviso. Tenho estudado muito, muito mesmo, sobre epoxy granite. E é um assunto praticamente inexistente em ptbr.
Acabei esquecendo de falar no comentário anterior. É imprescindível o uso de máscara ao trabalhar esses materiais. Até há MDF que não possui resinas tóxicas, mas não devem ser triviais por aqui.
Gostei muito da ideia de falarmos sobre os plásticos por aqui Jeferson!
Vamos trabalhar nisso sim. Muito obrigado!