Conheça o CI 555, o chip de maior sucesso no mundo. Ele existe a mais de 40 anos, ainda é produzido na escala dos bilhões de unidades e já foi utilizados em projetos de todos os tipos. O CI 555 marca o início de uma série de artigos sobre componentes eletrônicos no Fazedores.
Porque falar de componentes como o CI 555?
Quem tem acompanhado o Fazedores já deve ter percebido que somos fãs de plataformas como o Arduino e o Raspberry Pi e que temos mostrado vários projetos interessantes feitos com eles. Claro, eles são super poderosos, fáceis de usar e facilitam muito a vida de quem está começando. Porém, sentimos falta de projetos feitos com componentes mais básicos pois eles ajudam muito a entender como as coisas funcionam e alguns conceitos básicos da eletrônica. E foi por isto que resolvemos fazer uma série de artigos sobre alguns componentes que são super versáteis, simples, baratos e que fazem parte do mundo da eletrônica há muito tempo.
Quando alguém começa a estudar como montar projetos com o Arduino ou o Raspbery Pi a primeira coisa que ele aprende é a fazer um LED piscar. Estes projetinhos são o equivalente a um programa “Hello World” – ou Olá Mundo – do mundo da programação e são chamados carinhosamente de “Blink“. O CI 555 é excelente para fazer LEDs piscarem e também servem como uma boa introdução aos projetos eletrônicos. Mas não foi apenas por isto que escolhemos o circuito integrado 555 para começar esta série de posts.
O Timer 555 é nada menos que um dos chips de maior sucesso na história (se não for o de maior sucesso). Ele foi criado em 1970 pelo engenheiro Hans Camenzind quando algumas poucas empresas do Vale do Silício começavam a trabalhar na fabricação de circuitos integrados. Hoje, mais de 40 anos depois, já foram produzidos alguns bilhões deste CI e seu design continua o mesmo até hoje. Podemos dizer que o 555 já foi utilizado em praticamente todos os tipos de projetos eletrônicos, de brinquedos a computadores, de alarmes a naves espaciais.
O Circuito Integrado 555
O 555 é um simpático componente normalmente encontrado na forma de um pequeno invólucro de plástico preto com oito terminais metálicos na configuração DIP (Dual In-line Package). Nesta configuração você encontrará 4 terminais de cada lado do invólucro. Ele pode ser utilizado em várias aplicações como temporizador (timer), oscilador e gerador de pulsos. Trata-se de um componente bem versátil e que possui três modos de operação: monoestável, astável e biestável. Mas falaremos disto depois, primeiro vamos conhecer o componente.
Os pinos do CI 555
Para identificar os pinos do 555 no empacotamento DIP, observe a presença de uma pequeno dente no componente ou uma pequena depressão na forma de um círculo. Alinhe o chip de modo que a marcação fique para cima e você poderá identificar os pinos contando eles a partir do pino de cima a esquerda e caminhando em sentindo anti-horário. Normalmente os pinos de chips são numerados desta maneira. Veja na figura abaixo a identificação dos pinos do 555:
Os pinos do CI 555 possuem as seguintes funções:
Pino | Nome | Descrição |
1 | GND | Terra – Este pino deve estar sempre conectado ao terra da alimentação. Cuidado para não inverter a alimentação pois isto pode danificar o seu chip. |
2 | TRIGGER | Gatilho – Este pino ativa o biestável interno e a saída (OUTPUT) quando estiver com uma tensão abaixo de 1/3 da tensão VCC. |
3 | OUTPUT | Saída – Quanto ativada permanece em VCC por um intervalo de tempo. O intervalo de tempo é definido por alguns componentes externos e isto ficará mais claro mais tarde. |
4 | RESET | Reset – Interrompe um ciclo de temporização quando conectado ao terra (“pulled low”). |
5 | CONTROL | Tensão de Controle – Usada para alterar o funcionamento do comparador interno do chip ligado ao pino limiar (THRESHOLD) tornando-o mais ou menos sensível. |
6 | THRESHOLD | Limiar – Desativa o biestável interno e a saída (OUTPUT) quando estiver com uma tensão acima de 2/3 da tensão VCC. |
7 | DISCHARGE | Descarga – É usado para descarregar o capacitor conectado a este terminal. O capacitor é um dos componentes externos que citamos ao descrever o pino saída. |
8 | VCC | Positivo – Este pino deve estar sempre conectado ao positivo da alimentação. A alimentação deve estar entre +5 e +15V. |
O papel de cada pino e o funcionamento do 555 ficará mais claro ao estudarmos seus modos de operação. Vamos a eles…
Modo de Operação Monoestável
No modo de operação monoestável o 555 funciona como um disparador. Quando ele recebe um sinal adequado no gatilho ele gera um pulso de duração específica na saída. Depois ele volta a deixar a saída desligada e fica pronto para receber outro estímulo. Caso durante o período em que saída está ligada ele receber um sinal de reset ela é desligada imediatamente. Neste tipo de configuração o 555 pode ser utilizado em aplicações como temporizadores, detectores de pulso e até para remover o ruído de chaves (o que normalmente chamamos de debounce).
Nesta configuração o 555 é conectado da seguinte forma:
Vamos entender o circuito:
- Neste circuito o 555 é alimentado pelos pinos GND e VCC que estão conectados respectivamente ao terra e ao positivo da fonte de alimentação de 9V. Vale lembrar que ele pode ser alimentado com tensões entre 5V e 15V e que o sinal de saída – quando ativo – é bem próximo de VCC. Colocamos um capacitor eletrolítico de 100uF (C3) apenas para filtrar a alimentação. Ele não te relação com o funcionamento do 555.
- Colocamos um LED (LED1) no pino de saída – OUTPUT – em série com um resistor de 1K (R4) para limitar a corrente que passa por ele.
- Como o gatilho do 555 é ativado quando a tensão fica abaixo de 1/3 de VCC, colocarmos um resistor “pull up” de 10K (R2) entre o pino TRIGGER e VCC. A chave (S1) ligada ao terra faz que o sinal do gatilho caia para zero quando ela for pressionada conectando o pino ao terra. Quando a chave não está acionada o gatilho fica em VCC graças ao resistor de “pull up”.
- De maneira semelhante ao que fizemos com o gatilho, também colocamos uma resistor de “pull up” (R3) entre o pino RESET e VCC. E a chave (S2) ligada ao terra faz que o sinal de reset caia para zero quando ela for ativada. O reset do 555 é acionado quando está ligado ao terra, ou seja, apenas quando a chave (S2) é pressionada.
- O pino de controle não está em uso e por isto colocamos um capacitor cerâmico de 0.1uF (C2) entre o pino CONTROL e GND apenas para evitar que oscilações da tensão nele afetem a sensibilidade do 555 e interfiram no funcionamento de nosso circuito.
- Entre o resistor de 100K (R1) colocado entre o pino DISCHARGE e VCC é um dos componentes externos fundamentais para o funcionamento do 555. Ele define com que velocidade o capacitor C1 se carrega quando o gatilho é acionado.
- O capacitor de 47uF (C1) tem um de seus terminais ligados os pinos DISCHARGE e THRESHOLD e a outra ligada ao GND. Ele é outro componente externo fundamental para o funcionamento do 555. Ele se carrega através do resistor R1 quando o o 555 é acionado pelo gatilho e, depois, descarrega através do pino DISCHARGE quando sua tensão atinge 2/3 de VCC.
Agora que já tendemos o circuito vamos entender como ele funciona. Para isto é importante conhecermos o 555 por dentro. A figura abaixo representa o 555 por dentro. Esta figura não é uma representação fiel do circuito interno do 555, mas é suficientemente boa para fins didáticos.
Internamente o 555 é composto por quatro blocos fundamentais:
- A peça central – em verde – é um flip-flop. Podemos entender o flip-flop como duas chaves que são acionadas em conjunto quando ele recebe um determinado sinal e que mudam de estado quando ele recebe outro. Em nosso caso os sinais estão indicados por BAIXAR e SUBIR. O flip-flop tem um papel fundamental em acionar a saída e controlar o carregamento do capacitor C1. Observe que a chave de cima é conectada ao pino DISCHARGE e a de baixo é conectada à saída (OUTPUT).
- Depois temos um divisor de tensão com três resistores – em branco- de mesmo valor em série entre os pinos GND e VCC. Este divisor de tensão cria dois pontos intermediários com 1/3 de VCC e 2/3 de VCC respectivamente. É daí que vem os valores de 1/3 e 2/3 de VCC que citamos anteriormente.
- Ligado ao pino gatilho (TRIGGER) temos um comparador que compara o sinal do gatilho com a tensão de 1/3 de VCC. Quando a tensão do gatilho é menor do que 1/3 de VCC o comparador envia um sinal ao flip-flop para ele BAIXAR.
- E, para completar, temos outro comparador ligado ao pino THRESHOLD e ao ponto do divisor de tensão com 2/3 de VCC. Quando a tensão no pino limiar (THRESHOLD) fica maior do que 2/3 de VCC ele envia um sinal para o flip-flop para ele SUBIR.
Bom, com isto fica fácil entender o funcionamento do 555 na configuração monoestável. Ele funciona assim:
- Ao ligar o circuito temos os pinos gatilho (TRIGGER) e reset positivos em VCC graças aos resistores de “pull-up”. Além disto o capacitor C1 está sem carga e com isto os dois comparadores estão desativados. Assim, ao ligar o circuito o flip-flop está na posição “EM CIMA” – como na figura – e com isto a saída (OUTPUT) está conectada ao terra (desativada).
- Ao pressionar a chave S1 ligada ao gatilho, a tensão do gatilho cai – pois ele é conectado ao terra – e o comparado A envia um sinal ao flip-flop para ele BAIXAR. Ao ir para posição “EM BAIXO” o flip-flop conecta a saída ao pino VCC e o LED acende. Simultaneamente, o outra chave do flip-flop desconecta o pino descarga (DISCHARGE) do terra e permite que o capacitor C1 comece a carregar através do resistor R1.
- Quando a tensão no capacitor – que está ligado ao pino limiar (THRESHOLD) atinge 2/3 de VCC o comparador B envia um sinal ao flip-flop para ele SUBIR. Ao ir para posição “EM CIMA”o flip-flop desconecta a carga do VCC e o LED apaga. Ao mesmo tempo o pino descarga é conectado ao terra descarregando o capacitor quase imediatamente. Desta forma o circuito volta ao estado original e está pronto para receber outro sinal no gatilho.
- Se durante o período em que o flip-flop está na posição “EM BAIXO” – ou seja, a saída está ativa e o LED está aceso – a chave S2 for pressionada o flip-flop receberá um sinal para ir para SUBIR fazendo o 555 voltar ao estado inicial. O reset faz com que o 555 volte ao estado original antes do capacitor atingir sua carga de 2/3 de VCC. Ele reseta o temporizador.
Controlando o tempo
Um temporizador não serviria de nada se não pudéssemos especificar quanto tempo ele deve ficar ativo. O 555 é tão bom para fazer isto que alguns o chama de “The IC Time Machine” ou “A Máquina do Tempo num chip”. Para calcular o tempo de duração do pulso na saída quando o 555 monoestável é ativado utilize a seguinte fórmula:
t = R * C * 1.1
Onde:
- t é o tempo em segundos;
- R é a resistência de R1 em ohms; e
- C é a capacitância de C1 em farads.
Desta maneira, para nosso circuito de exemplo com um R1 de 100 Kohms e C1 de 47 uF temos:
t = 100000 * 0.000047 * 1.1 = 5.17 segundos
Se trocássemos o capacitor de 47 uF por um de 10 uF o tempo cairia para:
t = 100000 * 0.00001 * 1.1. = 1.1 segundos
E é exatamente este comportamento que você pode observar no video que preparamos para você. No vídeo você verá o circuito exemplo que apresentamos e o que acontece com o LED quando acionamos o botão azul (TRIGGER) e também o botão vermelho (RESET). Observe que na metade do vídeo trocamos o capacitor de 47 uF por um de 10 uF e que isto faz com que o LED fique aceso por bem menos tempo.
Bom, agora que você já conhece o 555 e sabe como utilizá-lo na configuração monoestável você pode utilizá-lo em seus projetos nas mais diferentes aplicações. Uma boa maneira de aprender como ele funciona é montar o circuito que apresentamos acima e testar diferentes maneiras de utilizá-lo. Troque os capacitores, os resistores e utilize cargas diferentes. Se puder, coloque seu multímetro ligado entre o terra e o pino THRESHOLD para ver como as mudanças na carga do capacitor – depois de apertar a chave S1 – acontecem e afetam o funcionamento do chip.
Nos próximos artigos desta série continuaremos falando do 555 e apresentaremos seus outros modos de operação e também como utilizar o chip em diferentes aplicações.
Fique de olho!
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Boa noite ,eu sou apaixonado por eletrônica , amo robótica , amo automação , e tudo que faça parte desse maravilhoso universo da eletrônica , mas faço uma pergunta , como calcular os resistores que fazem parte do ci 555 em um projeto isso e a minha duvida , ou o que o fabricante sugere aos resistores . muito agradecido
Olá, parabéns pelo artigo. Estou tendo problemas quando o rele está com carga, sem carga funcionamento normal, com um solenólde no rele, o desarmamento fica muito instável. procurei outros projetos, mas não tive resposta. obrigado desde já.
Boa noite, gostaria de saber se na configuração monoestável, a entrada do gatilho ficar variando entre estado alto e baixo dentro do tempo calculado para a saída se manter no estado pretendido reiniciará a contagem do temporizdor a cada pulso no gatilho ou a saída se manterá num único estado até que o tempo determinado acabe?
Boa noite Manoel Lemos,
Preciso muito de tua ajuda em um circuito utilizando o 555 para o envio de pulsos.
Procurei em três sites que oferecem calculadoras para obter os valores. O melhor foi este aqui: http://www.daycounter.com/Calculators/NE555-Calculator.phtml
Calculei para 1920Hz
Frequency: 1.92KHz
Duty Cycle: 50%
RA = 0 Homs
RB= 37K5 homs
porém colocando os valores indicados resulta no aquecimento do 555 e não funciona.
RB entre os pinos 7 e o 6 (junto com o 2) = Resistor de 37K5 ( 33K+2k7+1K8)
RA entre os pinos 7 e o 8 (junto com 4) = As calculadoras de 3 sites indicam curto-circuitar
C entre os pinos 6 e 1 = Capacitor de 0.01uf
pino 1 é grounded, pino 3 deveria sair pulsos de 1.92KHz, mas o 555 aquece com apenas 9V de alimentação No pino 3 coloquei um Led em série com um resistor de 470R em direção ao GND.
Colocando o RA com qualquer resistor o 555 funciona normalmente, mas eu estou necessitando muito é de uma frequência de 1920Hz e quem mandou eu ligar em curto o pino 7 e 8 foram as calculadoras de três sites. Porque o 555 está aquecendo?
abraços
José Paulo
Olá José, tudo joia?
Antes de mais nada me desculpe pela demora em responder.
Caro, ando super sem tempo e acho que o ideal é você trocar uma idéia com o pessoal do Fórum do Fazedores: http://forum.fazedores.com
Outra dica é olhar o Datasheet do chip que você estiver usando para ver se tem alguma observação lá sobre isto.
[]s e boa sorte!
Manoel
Caro Manoel, parabéns pelo artigo e obrigado por essa oportunidade de aprendizado. Muito sucesso!
Entrevista de 2004 com o Camenzind, criador do 555, ele faleceu em 2012: http://semiconductormuseum.com/Transistors/LectureHall/Camenzind/Camenzind_Index.htm
Use rele desacoplado do 555 por meio de um desacoplador otico que do outro lado aciona a bobina do rele. Outra forma de fazer seria usando um Pic de 8 pinos para gerar o pulso no intervalo e com a duração desejada, igualmentr desacoplado. Assim nao precisa usar capacitores e resistores para gerar o pulso no 555.
Excelente artigo.
Bons tempos de curso técnico, espero colaborar
AC, 1,6kW. Daí quero ver o que será mais em conta, se relê ou outra solução.
Aguardarei o próximo artigo pra entender melhor!
Manoel, qual seria a solução de menor custo para usar na saída do 555, para acionar uma carga de maior potência, como um aspirador de pó?
Em modo astável ele oscila em períodos constantes?
Eu vejo uma solução barata para acionar o aspirador a cada n segundos, por um período de, por exemplo, n/5 segundos.
Jeferson, um relê ou um triac. Sim, no modo astável ele oscila em período constantes determinado pelos resistires e o capacitor externo. Vou abordar este modo no próximo artigo. Seu aspirador é DC ou AC?