Junto da onda da “gourmetização” que vem mudando os hábitos de consumo dos brasileiros há algum tempo, a curiosidade e o gosto pela cerveja artesanal ganha mais adeptos a cada dia. Mas ao contrário do movimento mercadológico no sentido de envolver produtos comuns em uma aura de diferenciação, a degustação de uma boa cerveja é algo realmente interessante e saudável, que pode render excelentes experiências sensoriais – e sociais, por que não? Afinal de contas, um bom papo regado ao “suco de cevada” continua sendo uma preferência nacional.
É necessário lembrar o seguinte: a maior parte das cervejas brasileiras contém os chamados cereais não maltados, geralmente milho, o que costuma ser uma fonte interminável de queixas por parte dos mais escolados. Os produtores afirmam que a mistura serve para adequar as bebidas ao gosto do brasileiro, conferindo mais leveza e suavidade, mas a verdade é que este artifício é muito usado pelas marcas mais comerciais para ganhar em volume e diminuir os custos da produção.
O fato é que, com a descoberta do sabor mais pronunciado e complexo das cervejas puro malte por parte dos brazucas, a procura por marcas diferenciadas e cervejarias artesanais vem crescendo, e muito. Por outro lado, encontrar boas cervejas não é tão simples quanto ir ao boteco da esquina e pedir uma garrafa de 600ml; isso somado ao perfil do it yourself inerente ao nosso povo levaria, invariavelmente, à produção caseira desta divina beberagem.
Falemos hoje então, de cerveja, e de como os #fazedores estão envolvidos nessa história!
O renascimento da cerveja artesanal
Pode parecer absurdo, mas a cerveja é mais antiga que a própria História, que nasceu junto da invenção da escrita, por volta de 4.000 a.C.. Hoje, sabemos que a cerveja já era conhecida de povos como os Sumérios, os Egípcios e Ibéricos, entre outros, pelo menos desde 6.000 a.C.. Na idade média, garantiu a sobrevivência de muita gente, pelas propriedades esterilizantes do álcool em sociedades sem o mínimo de saneamento básico. A humanidade e a cerveja caminham de mãos dadas – às vezes um pouco cambaleante, é verdade, mas sempre juntos.
A industrialização e o estilo de vida moderno fizeram com que as cervejas produzidas em massa dominassem o consumo, mudando o perfil da bebida ao longo do tempo para se tornar cada vez mais lucrativa. Mas se tratando de uma beberagem tão antiga, o valor das tradições nunca foi de todo deixado de lado, e agora que estamos valorizando de forma crescente produtos artesanais, a cerveja volta com tudo ao modo de produção caseiro.
Durante o período da Lei Seca nos Estados Unidos, entre 1920 e 1933, a produção de bebidas alcoólicas caseira foi uma espécie de moda fora-da-lei. Inclusive, a fama do célebre gângster Al Capone se deve principalmente ao tráfico de bebidas ilegais, intenso e lucrativo nesta época. E, se era perigoso beber nos bares clandestinos, comuns nos subsolos de cidades como Chicago, naturalmente muita gente resolveu #fazer sua própria cerveja (entre outras bebidas), já que os produtos usados na sua fabricação não eram proibidos.
De toda forma, fazer cerveja não é difícil. Todo equipamento necessário cabe em um pequeno armário de três metros quadrados. E muitos se espantam ao saber que bastam três ingredientes para se fazer uma verdadeira cerveja, além da água: lúpulo, levedura de cerveja e uma fonte de amido, normalmente o malte de cevada. Aliás, a água é determinante para o tipo e a qualidade da cerveja, pois cada local guarda especificidades únicas, que vão se refletir no resultado final.
Claro que há toda uma técnica ao redor da produção cervejeira, mas isso não é nenhum tipo de obstáculo. Ou seja, fazer sua própria bebida é bastante viável, e este é um dos motivos que levam cada vez mais fazedores a produzir cerveja em casa.
O que nos leva a fazer nossa própria cerveja?
Há algum tempo, as vendas e o consumo de vinhos cresceram muito no Brasil, impulsionado pela produção nacional de qualidade e da farta disponibilidade de rótulos vindos principalmente de locais como Chile, África do Sul e do sul dos Estados Unidos, além dos já tradicionais vinhos franceses, alemães e italianos. Pouco tempo depois, foi a vez das cervejas artesanais, que agora já vêm predominando no mercado. Mas por que começamos a intensificar a produção de cervejas, e não de vinhos?
O primeiro motivo é bem óbvio: bebemos muito mais cerveja do que vinho. A demanda é enorme, e o clima quente ajuda bastante. Mas a principal razão é realmente a viabilidade. Fazer cerveja é relativamente fácil, e a estrutura necessária é bastante acessível.
Alguns podem se questionar se vale a pena produzir cerveja ao invés de simplesmente compra-la, já que nos dias de hoje é muito mais fácil encontrar marcas e estilos variados desta bebida em qualquer supermercado minimamente razoável. É aí que entra em cena o fator gourmet que mencionamos no começo deste artigo: Nada mais exclusivo e encantador do que convidar os amigos para degustar da cerveja que você mesmo fez, desde o começo, engarrafou e preparou com cuidado, até o ponto ideal para servi-la. É como preparar um prato diferente para pessoas queridas, só que em uma escala muito maior.
A cervejaria norte-americana Dogfish Head é famosa pelas suas cervejas exóticas e exclusivas. Na década de 90, iniciaram experimentos para tentar reproduzir uma receita baseada em resquícios de uma bebida encontrada em ânforas tiradas das tumbas do rei Midas, que datam de 700 a.C., na Turquia. Eles foram a primeira cervejaria a comercializar uma bebida tirada de uma receita de origem histórica, a Midas Touch, que você pode ter o prazer de degustar ainda hoje.
Assim como a Dogfish Head, muitas pessoas estão resgatando receitas do passado , e fazendo uma junção da tradição com a modernidade e seu toque pessoal, mesmo que não seja exatamente um “toque de Midas”. Mas este é um dos principais encantos da produção artesanal da cerveja: com um curso básico, ingredientes de fácil acesso e um pouquinho de experiência, é possível fazer da sua bebida algo único, exclusivo e de boa qualidade.
Se você tem interesse em fazer a sua própria cerveja, lembre-se de que a essência desta bebida acompanha nossa civilização desde os seus primórdios, e que ao longo da história ela foi produzida por fazendeiros, faraós, monarcas, monges, camponeses, bandidos e autoridades. Até a Casa Branca, a sede do governo norte-americano, possui a sua própria cerveja, produzida com o mel colhido nos jardins que cercam os escritórios de Barack Obama. Ou seja, a cerveja é uma das beberagens mais democráticas de todo o mundo!
Ficou animado com a história da cerveja? Fique ligado aqui no #Fazedores! No próximo post da série, vamos dar dicas muito legais de como começar a sua produção! Até lá, e saúde!
Legal Fabiano, bem legal o artigo.
Mas estou escrevendo este comentário para testar o novo layout.
Me avise se tudo ok ai do seu lado.
[]s
Manoel