Como podemos definir um #fazedor? Esta é uma pergunta que, até hoje, não conseguimos responder claramente. Não é pela área de conhecimento, pelas ferramentas que usa, nem muito menos pela profissão ou formação acadêmica.
Por isso, fazemos hoje uma reflexão sobre o que temos em comum. Seja você um marceneiro, cientista, estudante, professor, engenheiro, advogado, artista ou qualquer outra coisa. Se você é fazedor, certamente já viveu estas quatro experiências:
Você já desmontou alguma coisa sem saber como ia montar depois
Ganhei de presente um despertador mecânico velho quando eu tinha uns 10 anos de idade. Era um cilindro de metal esmaltado vermelho, bem pesado, com um martelo e dois sinos no topo e umas manoplas nas costas, para dar corda e acertar os ponteiros. Nada de baterias, placas de circuito ou displays de LCD. Só um monte de molas e engrenagens.
O detalhe é que o martelo não estava funcionando. Servia de enfeite na estante do meu bisavô há sabe-se lá quantos anos. Dava corda, ficava uns minutos batendo um tic-tac incerto, inconstante e parava. O relógio decidido a ser só um enfeite, e eu doido para ver os sinos batendo!
Peguei uma chave philips e tirei o tampo, só para ver se percebia qual era o problema. “A mola da corda deve estar solta ou algo do tipo.”
Em vez de me apresentar um problema óbvio, as tripas expostas do relógio me mostraram um mecanismo intricado, com dezenas de pinos, parafusos, pesos e engrenagens. Neste momento, o destino do infeliz foi selado de vez.
Eu não tinha experiência nenhuma com relógios. Sabia que não tinha chance nenhuma de montar o bicho de novo. Não importava. Uma peça de cada vez, o antigo mecanismo foi virando uma monteira de metal empilhado num pote de sorvete vazio, destes que as mães adoram congelar feijão dentro. Não sobrou um parafuso sequer no corpo, agora permanentemente sem vida, do coitado.
Hoje entendo por que fiz isto. Para um fazedor, a jornada importa muito mais que o resultado. Sabia que não ia consertar o relógio, mas isto não era mais o objetivo. Isto nos leva ao nosso próximo ponto…
Você quer saber como tudo funciona
Perdi a conta de quantos brinquedos, eletrodomésticos e outros objetos eu já estraguei nessa vida. A motivação para querer desmontar as coisas não vem do fato delas não funcionarem, como poderia se supor. O aparelho estragado é especialmente convidativo, claro! Afinal, já não servia para nada, então se a “operação reparo” não der certo, nada foi perdido.
O que acontece é que, na verdade, as coisas que funcionam correm um risco muito maior de atrairem a atenção de um fazedor com uma chave de fenda nas mãos. Isto por que existe na nossa cabeça um encanto pelo funcionamento do mundo. Por todas as coisas nele!
Os utilitários da casa sofrem por que estão ao alcance das mãos. Não dá para desmontar um avião para saber como ele voa, ou enfiar a mão em um arco-íris para saber de onde vem aquelas cores todas. Mas é exatamente o que faríamos, se nos fosse dada a chance.
Esta curiosidade toda nos une em outro traço comum…
Você está sempre aprendendo coisas novas
Experimentar o mundo ao seu redor com este olhar inquisitivo nos faz navegar um caminho ridiculamente propício para o aprendizado. Analisar, conjecturar hipóteses e divagar sobre as experiências nutre um hábito fantástico: o de fazer perguntas.
As palavras “como” e “por quê” são usadas mais frequentemente. O que acontece ao responder estas perguntas? Aprendemos!
É bastante comum que os fazedores sejam um poço de conhecimentos aparentemente aleatórios. Afinal, toda experiência é oportunidade para um aprendizado, por menor que seja. Vamos acumulando estas pílulas de informação, de assuntos que aparentemente não tem relação nenhuma.
Certamente você já ouviu “mas onde diabos você aprendeu isto?” ou “eu não sabia que você entendia destas coisas” alguma vez. Provável que você mesmo não soubesse apontar exatamente onde, ou quando, para explicar.
Se a vida inteira é uma escola, esta referência perde o sentido pra gente. Agora você entende que o fio comum destas informações não é um assunto, local ou momento específico, como a faculdade, um livro ou documentário. É o seu jeito de viver a vida.
Se identificou com a situação? Então se prepara que vou acertar mais uma:
Sua cabeça tem ideias o tempo todo
Todo fazedor é uma verdadeira máquina de ter ideias. A explicação para isto está justamente nos parágrafos acima. Já sacou qual é? Dá uma olhada se você acertou:
Para entender, é preciso olhar para a anatomia de uma ideia, do que elas são feitas e como elas nascem. Os gregos entendiam que elas eram enviadas aos homens pelas nove musas, que as conjuravam do éter para os homens. Se esta explicação lhe parece ridícula, dê uma olhada em como nosso mundo tende a encarar a criatividade. O mito do criativo como portador de dom divino permanece firme e forte!
O que acontece na realidade, é que as ideias não vem do éter, ou do vazio, mesmo que pareça ser assim às vezes. Elas nascem da conexão entre as coisas que você já tem na sua cabeça, só que ligadas de um jeito novo.
Pense na seguinte analogia: é impossível inventar um omelete sem conhecer antes a existência dos ovos e da panela. Não dá para sair do “nada” e chegar no omelete por mágica.
Como a cabeça de um fazedor está repleta de aprendizados e conhecimentos, tudo nadando em explicações e teorias, temos matéria prima de sobra. Mais ainda: a própria curiosidade que trouxe todas estas coisas para dentro dos nossos cérebros, também é um motor poderoso para inspirar novas maneiras de conectar umas às outras. BOOM! Uma ideia, novinha em folha.
Se você chegou até aqui, se recordou das coisas que você desmontou, de como aprendeu com elas ou percebeu quanto conhecimento esta aí, só esperando ser transformado em algum novo projeto ou experimento, sinta-se em casa. Você é um Fazedor e tanto!
Que tal contar dos seus aprendizados pra gente? Deixe o seu comentário e junte-se também à discussão, no Fórum dos Fazedores.
RSRSRSRS. Bem isso mesmo. Excelente!
basta existir uma pequena caixa, com apenas um só parafuso.
Para nos proporcionar uma imensa curiosidade de saber o por quê, o que pode ter ali?.
Fabiano, em cheio, na mosca!! Perdemos a conta de quantos objetos deram suas “vidas” em função do nosso aprendizado.
De tanto ser um fazedor segui carreira e de tanto desmontar virei um construtor de engenhos.
Belo texto.
Um grande abraço.
Opa! Que bom que você curtiu o texto, e que compartilha conosco essa jornada fantástica que é ser um #Fazedor!
Grande abraço!
O livro Precision Machine Design, Alexander Slocum, fala muito sobre isso nos capítulos iniciais.
Principalmente sobre o querer saber como tudo funciona. O livro é voltado aos alunos de engenharia, logo ele fala bastante coisas como: tire os fones de ouvido e preste atenção ao mundo à sua volta.