Certamente você já ouviu o termo crowdfunding ou ouviu falar de sites como Kickstarter, Indiegogo e Catarse. Muitos dos projetos mais interessantes que apresentamos aqui no Fazedores recorreram a esta modalidade de financiamento para se viabilizarem. Mas você entende como isto funciona? Não se preocupe. O Fazedores vai mostrar tudo sobre o assunto!
O termo crowdfunding veio da fusão de duas palavras em ingles: crowd que significa massa ou multidão e funding que significa financiamento. Então traduzindo ao pé da letra podemos entender crowdfunding como “financiamento pelas massas” ou, melhorando, “financiamento social”. É preciso entender que crowdfunding é um termo amplo, que abrange várias modalidades diferentes. O que o caracteriza é o fato de se tratar de um esforço coletivo para financiar ou viabilizar uma idéia ou projeto. Ou seja, enquanto em um financiamento tradicional poucos agentes contribuem com grandes quantias, no crowdfunding a coisa vai na direção oposta. Nele, dezenas, centenas ou milhares de pessoas contribuem com pequenas quantias para que o montante total seja levantado.
No modelo tradicional de financiamento, o retorno do investidor é bastante claro: é financeiro. O dinheiro investido é pago de volta com juros ou com a compra de parte (equity ou participacão) do projeto ou empresa que está sendo financiado. No crowdfunding a coisa é um pouco diferente.
Uma idéia, possibilidades infinitas
Parte do que torna o crowdfunding tão interessante, é que ele não é usado apenas para retorno financeiro direto. O conceito do financiamento coletivo pode ser utilizado para as mais diversas causas, dependendo do projeto a ser financiado e da plataforma que operacionaliza a transação. Hoje vamos conhecer o maior, e mais popular deles, o Kickstarter.
Kickstarter, o gigante do crowdfunding
Vários dos projetos mais legais que mostramos aqui foram viabilizados pelo Kickstarter. Isto não chega a ser uma surpresa, já que ele é hoje a maior plataforma de crowdfunding do mundo. Ele serve para financiar projetos que vão de produtos tecnológicos até música, apresentações artísticas, produção jornalística e videogames. Na realidade ele nasceu para financiar estes projetos de produção artística e de conteúdo, mas acabou sendo adotado pela comunidade maker no mundo todo.
Seus projetos mais bem-sucedidos levantaram milhões de dólares e foram custeados por dezenas de milhares de pessoas. Alguns fizeram isto em poucos dias, ou mesmo horas! O OUYA, um console de videogame diferente baseado em Android, bateu sua meta em apenas 8 horas. Ao final da campanha havia acumulado quase 8.6 milhões de dólares, quase 9 vezes a meta inicial. Entre projetos recordistas de velocidade estão também o Double Fine Adventure, um jogo de aventura do mesmo criador dos clássicos Day of the Tentacle e Full Throttle, que bateu sua meta em 17 horas e o Pebble, um relógio inteligente super legal, que levou pouco mais de um dia.
No Kickstarter, cada financiamento é uma campanha operando no sistema AoN, abreviação para All or Nothing – Tudo ou Nada em português. As campanhas rodam por um período de 30 dias. Ao final deste prazo, se não atingirem a meta estabelecida, todo o dinheiro é devolvido aos investidores e o empreendedor não recebe nada. Se atingido, as colaborações são cobradas dos apoiadores e o dinheiro é entregue ao dono do projeto. Para incentivar as contribuições, os projetos contam com vários níveis de recompensas, conforme o valor doado.
As recompensas variam enormemente, conforme o projeto, mas seguem mais ou menos o mesmo padrão. Os valores mais baixos vão de um “muito obrigado” registrado no site do projeto à brindes como pôsteres, camisetas e adesivos. Acima, existe um nível intermediário, onde se recebe o produto financiado, antes da sua chegada oficial ao mercado. No topo, para as contribuições mais altas, muitos kicstarters – nome dado aos criados de projetos no site – entregam versões mais luxuosas dos produtos, como edições limitadas, incrementadas e exclusivas. São comuns também as recompensas que envolvem conhecer o time de desenvolvimento ou receber itens totalmente personalizados, como personagens dentro de um jogo, por exemplo.
Em 2013, no Kickstarter, mais de dezenove mil projetos (19911 para ser exato) tiveram sucesso em suas campanhas. Estas campanhas levantaram um total de 480 milhões de dólares que foram bancados por mais de 3 milhões de apoiadores. Com estes números podemos entender porquê o Kickstart é o rei dos sites de financiamento social. Você pode ver outras estatísticas incríveis do ano de 2013 do Kickstater aqui.
Muito além do dinheiro
É inegável que o crowdfunding introduziu uma alternativa super interessante para o financiamento de projetos e que isto, por si só, já é incrível. Mas existem outras vantagems fantásticas neste modelo. A principal delas é a de permitir que os criadores dos projetos testem suas idéias antes mesmo delas irem para as prateleiras ou até mesmo antes de serem totalmente desenvolvidas. Uma campanha de crowdfunding bem feita funciona como uma excelente pesquisa de mercado e pode dizer muito sobre o futuro sucesso comercial do projeto. Se o projeto atingir sua meta de financiamento é porque ele conseguiu encontrar pessoas suficientes interessadas no produto. Ou seja, ele constatou a existência de demanda para aquelas idéia. E se funcionou no crowdfunding, é bem possível que também funcionará quando for vendido abertamente em lojas ou na Internet. Por outro lado, se o projeto não conseguir ser financiado isto é um bom indicador de que talvez não exista demanda para aquela idéia e que ela deva ou ser modificada ou abortada.
Quando uma campanha começa, já que ela tem um prazo limitado para se concluída, é comum que os apoiadores do projeto divulguem o projeto para outras pessoas para tentar garantir que ele atinja a meta de financiamento. Caso contrário o projeto não será executado e aqueles poucos apoiadores interessados não terão o seu produto produzido. Isto cria um incentivo extra para que apoiadores do projeto também façam o marketing do mesmo. E este marketing espontâneo é, quase sempre, muito bem dirigido já que os apoiadores do projeto tendem a conhecer outras pessoas com gostos semelhantes e que provavelmente também se interessariam por aquele produto.
E mais, como a contrapartida pelo dinheiro oferecido pelos apoiadores são as recompensas que citamos anterioremente, o crowdfunding oferece duas vantagem bem interessantes sobre os modelos tradicionais de financiamento: o não comprometimento de participação na empresa e a inexistência de juros de qualquer tipo.
Isto tudo faz do crowdfunding uma excelente alternativa para que makers testem se seus projetos tem algum potencial comercial ou não. As vantagens são múltiplas: começando com uma pesquisa de mercado bem simples, eficaz e econômica; passando por um esforço de marketing dirigido super eficiente e espontâneo; e, tudo dando certo, culminando no financiamento do produto através da pré-venda do produto para seu público alvo.
Controvérsias
Mesmo com um modelo super bacana, o Kickstarter não está livre de problemas e polêmicas. Há casos como o de Amanda Palmer, a esposa de Neil Gailman e vocalista do Dresden Dolls e Evelyn Evelyn. A artista levantou mais de $1,2 milhão na plataforma, para a produção de um álbum e sua turnê. No entanto, ela pediu que os músicos tocassem de graça, em troca de “cerveja e abraços”. A repercussão negativa levou ao pagamento de cachê para todos os envolvidos no projeto.
Há também controvérsias como a presença de celebridades na plataforma. Zach Braff e Rob Thomas usaram o Kickstarter para levantar milhões de dólares para seus filmes por lá. O argumento contra é que isto tira a visibilidade e a capacidade de levantar dinheiro de outros artistas independentes, que não podem recorrer a fama e a contatos endinheirados para isto. Por outro lado, os apoiadores alegam que quanto mais gente melhor, pois os usuários trazidos pelas celebridades também terão contato com projetos menores e poderão ajudá-los.
Há também problemas como os que aconteceram com o Pebble Smartwatch. A demanda inicial, muito maior que a que os desenvolvedores esperavam, levou o projeto a atrasar entregas, deixando apoiadores esperando pelo seu produto por vários meses. Neste meio tempo, com o enorme sucesso, a companhia conseguiu fechar acordos de distribuição com grandes lojas, como a BestBuy. Sem conseguir atender a todas as demandas, os apoiadores iniciais foram prejudicados. Mesmo depois que já era possível comprar o produto em lojas tradicionais, muitos apoiadores da campanha ainda não tinham recebido seus ítens. A ocorrência parece ter sido relativamente isolada, afetando poucas pessoas. Ainda assim, é um ponto de preocupação para o futuro. O caso do Peeble serve de aprendizado para todos os makers que queiram levar seus projetos para o mercado através de sites de crowdfunding. Uma coisa é desenhar um produto em seu computador e montar um protótipo em sua oficina, outra bem diferente é ter que produzir, entregar e suportar milhares de unidades para clientes no mundo todo. Fica a dica!
Mesmo estando em atividade apenas desde 2009, o Kickstarter foi decisivo para a viabilidade de alguns projetos verdadeiramente revolucionários. O modelo do site está sendo copiado em vários países mundo afora (o Brasil já tem o Catarse) e se desdobrando em formatos mais adequados a vários outros usos.
No nosso próximo post, mostraremos mais sobre o Catarse e outras plataformas de crowdfunding brasileiras. Fique ligado no blog do Fazedores!
Quais os procedimentos para criar uma crowlfunding?
Manoel, seu post é muito bom e ilumina um pouco desta nova modalidade a qual penso em usar dentro em breve. Você poderia explorar mais os detalhes dela? Questões como cobrança de imposto sobre o dinheiro arrecadado, necessidade ou não de se ter um CNPJ e outras dúvidas assim são pertinentes para quem pretende utilizar um crowdfunding para catapultar sua idéia!
Olá Daniel, legal que você gostou. Suas perguntas são boas em bem importantes. Vou sugerir que você abra um tópico sobre elas no Fórum do Fazedores. Assim toda a comunidade poderá te ajudar. http://forum.fazedores.com